quinta-feira, 16 de outubro de 2014

XVI

À luz de imensos focos de vermelho fúnebre
eu sento-me                     uivo                    escrevo
A imagem da criança esventrada pelo insaciável bico
O delírio da mitologia cosmopolitana a assegurar as suas camas
As torres com imensos olhos em chama por vida
Tantas enormidades estrangeiras aos calos das nossas mãos

Passo na rua levantando a saia para mostrar a minha cona
Para habitar o regozijo geral machista do tempo
Infiltro-me no vácuo dos demais usantes de chapéus
Canto os nós das forcas sobre as palavras
Imensas boias de sangue pulverizando reflexos
rio pantanoso onde concentro os meus dentes nos peixes mortos

Sou tão imensamente ávido e carnívoro
Que renasco em pedestais dourados em cidade santa
Em mosaicos a conhecerem o sol às chapadas na cara
Imensa turbe branquílinea e sã da sua meditação
Que a poesia seria despojada de sentido linguístico
Para ser apenas os dentes gementes ao trago

Ah mas tanto bulício infame e seguidista
Que tem os quatros charros aos quais à luz me sento e escrevo
Uma febre totalmente composta para lambermos as beiças
Porque é a amargura constrita por uma trela curta
Onde largamos em versos para o gáudio salvífico
Da corrida de galgos de quem fez todas as apostas

Derretemos em mais uma gota de cera
Subitamente tudo ganha em cor de tudo
Onde tudo é verosímel e policromático


Iluminamos a sombra

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