sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Araté

A insignificância dos meus dedos não produzirá ao sol coisa nenhuma,
Para o homem sem talento escrever poesia é uma perversa forma
De gostar da punição do arame nas mãos

Os dentes estão partidos mas não é de trincar caroços
Não há nenhum âmago do qual sejamos particularmente lúcidos
Apenas o desígnio de ser na ampulheta
A areia usada para ponderação do tempo
Somos mar e prometeu
O sorriso miúdo de quem tem a ergonomia perfeita
Para poder ser o melhor broxista da cidade
Onanistas decadentes para a ternura ofensiva das musas
Enquanto alimentamos ódio pela sua compreensão e pena
Pendurando no peito os cadáveres de todos os nossos assassinatos

Mas ainda nos agarram pelo pulso para passeios sentimentais
Nós que tanto tentamos avisar-lhes com a verdade
Sobre a íntima origem da nossa vontade consporcatória

Não cites Freud meu amor
Isto não é uma patologia psíquica para as receitas médicas de falsos profetas
Isto é o basilar e fundacional de todo o nosso mausoléu
Porque preferimos a pneumonia às camisolas com criancinhas dando as mãos
A toda a parafernália que é oferecida na sopa dos pobres por almas caridosas

Deixa-me e aceita-me enquanto demónio
Honrada solidão
A virtude está do meu lado

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