Conhecemo-nos nas redes sociais (sim isto é um relato
pós-moderno com o selo do continente estampado nas nádegas) ela adicionou-me.
Falamos pela primeira vez, ela não era muito assídua na conversa, dava os
habituais tempos de espera de quem não quer parecer desesperada. A conversa
durou cerca de 30 minutos e ela depois desligou. Voltamos a esse hábito duas ou
três vezes, tentei meter a conversa do costume sobre gostos e locais onde saía,
disse-me que morava em Santarém, estudava no Porto, não saía muito. Depois
desapareceu durante uns meses até que voltou a entrar em contacto comigo, era
Verão havia o Serralves em Festa e eu puxei para nos encontrar-mos por lá mas novamente
o meu convite foi declinado. Voltou a partir do chat e eu fiquei por casa a
fumar a minha solidão. Muitas horas volvidas reapareceu com a interpelação
‘estou toda molhada’. Eu fiquei surpreso não só por não ser usual as mulheres
confessarem tal coisa perto de mim mas também porque não é usual elas ficarem
dessa forma à minha beira. Agradeci a confissão, perguntei-lhe a que se devia e
ela rematou que se estava a masturbar. Resolvido o enigma, incitou-me a
masturbar-me com ela, proposta que eu aceitei verbalmente apesar de manter como
um pornógrafo frustrado sempre com as mãos no teclado. Imaginou uma situação em
que estávamos no carro após eu ter ido busca-la a casa, tínhamos parado num
bosque e eu tinha começado a despi-la sem pedir licença. Eu usei a minha
etiqueta proto-burguesa com expressões como ‘depois entro dentro de ti’ e ‘gemo
de prazer ao ver a tua casa a contorcer-se’ mas ela cedo marcou a vontade de
querer passar um degrau acima: contava-me como queria o meu caralho dentro da
sua cona a parti-la toda enquanto lhe espetava o dildo no cu, palmadas no rabo,
pirocadas nas bochechas e esporradelas na cara. Admito que foi um pouco
estranho para mim apesar de me ter narcisicamente como libertino, terminado o
filme compreendi o porquê de ela ter saído do chat das outras vezes: ela apenas
queria as redes sociais para ter este tipo de conversas. Tinha namorado,
chamado G., e dizia que lhe era completamente fiel, ele sabia de esta prática e
haviam combinado as suas regras: apenas mensagens nada de fotos. Às vezes,
contava-me ela, G. tinha ciúmes, aparecia-lhe em casa repentinamente para
terminar o festim, muito embora ela tinha o hábito de se estar a masturbar
enquanto falava com G. e outros homens ao mesmo tempo. A pergunta que me surgiu
na mente era como seria possível os pais não repararem que entrava um rapaz no
quarto dela tantas vezes para se envolver com ela, a resposta foi simples ‘
eles sabem que eu preciso’.
Tinha-lhe sido diagnosticado primeiro uma perturbação de
personalidade boderline mas depois tinham afinado para outra doença ainda mais
sedutora para o fetiche social: ninfomania. O pai, homem conservador e
católico, ficara inicialmente perplexo mas ao ver a sua filha atulhada em
drunfos, compreendeu que o bem estar da sua filha passava por viver sem
comprimidos e saciar a sua vontade, quanto a S. adorava foder e considerava ser
algo de extremamente identitário e revolucionário na sua personalidade,
enunciava que a sua vagina eram as suas garras e não queria abdicar da sua liberdade,
o pai, G., mãe, o irmão apenas tinham de se conformar com isso.
Fiquei curioso quanto ao seu processo de descoberta sexual,
relatou-me como aos 15 anos tinha ido à sala e aguardado que o seu irmão fosse
à casa de banho para ficar sós com um amigo dele. O miúdo, como o irmão, tinha
menos dois anos que ela, ficou atónito ao ver o comando da playstation lhe ser
retirado das mãos e sentir a sua mão ser levada por S. até a vagina – ‘diz ao
meu irmão que vais te embora e depois entras à socapa no meu quarto’. Depois da
sua primeira aventura com esta presa, S. foi meses depois à esteticista
depilar-se. Tinha-lhe sido incumbido um homem porque supostamente só deveria
tratar lhe das pernas, mas mal o trintão se preparava para sair do gabinete, S.
pegou-lhe na mão e fez a brincadeira que fez com o amigo do irmão, contudo sem
sexo vaginal – ‘era demasiado velho para mim’. Ainda hoje falava com eles os
dois, chamava-lhes as suas crias, fazia sessões de masturbação à distância
diariamente bem como conversas telefónicas sobre temas do quotidiano.
Uma vez também me ligou, S. não tinha grande coisa a dizer,
gostava de filmes de acção, Nicholas Sparks e de apanhar sol, talvez por isso a
conversa esgotou-se em 20 minutos. Houve um daqueles silêncios em que nos
parece fazer ver a cortesia a esperar a despedida, mas subitamente sussurra-me
‘ estou a masturbar-me desde o início da chamada’. Eu fiquei mais uma vez
abananado com as palavras dela e senti-me um voyeur punheteiro enquanto ouvia
os gemidos e orgasmos múltiplos dela. Ligou me mais uma vez e o ritual
repetiu-se. Á terceira foi extremamente fastioso e monótono. Á quarta deixei de
atender.
Com mais meses em cima voltou à carga ‘ Bunny tenho saudades
tuas’, eu voltei a insistir para nos encontrarmos pessoalmente, devo admitir
que mais que o sexo procurava conhecer a pessoa, em S. fascinava-me a sua força
e visceralidade, a sua capacidade de se impor e de se aceitar enquanto tal sem
se deixar comer pelas tretas positivistas dos psiquiatras. Mas S. não arredava,
queria ser fiel ao namorado e não queria sexo. Propus-lhe que fossemos amigos e
que nos encontrássemos sem nenhum propósito outro senão o da conversa e do
álcool. Ela rejeitou vezes sem conta, nenhum de nós cedeu no braço-de-ferro, eu
recusava-me a ser mais um dos fantoches dela e ela recusava-se a encontrar-se
comigo. ‘Com quantas gajas já fodeste, bunny?’ – eu fui à minha lista, contei e
apresentei-lhe o meu relatório, ela retorquiu que já não queria nada comigo, eu
estava demasiado ‘mastigado e batido’. Tive de aceitar a recusa dela.
Numa Sexta-Feira quando ia a caminho do Porto recebi uma mms
contendo dois redondos seios com a ergonomia adequada para poder caber na palma
de uma mão. Perguntei-lhe o que significava aquilo – ‘apeteceu-me, estou muito
triste’. O médico tinha-lhe dito que os seus ovários estão a estropiar, eu
inventei uma miscelânea pseudo-psicanalítica defendendo que talvez o ímpeto
sexual desacerbado do seu corpo fosse apenas uma vontade de reproduzir enquanto
ainda fosse possível – ela riu-se muito e achincalhou o meu pudor. Voltei a
tentar vê-la pessoalmente, ela declinou, o braço de ferro voltou e acabou como
de costume – afastamento durante mais uns meses. Durante esse tempo fomos
falando, S. conseguiu ser fecundada pelo namorado e debateu-se entre a sua
vontade de ser mãe e a importância do curso de medicina por acabar. Acabou por
abortar. Acabou com o namorado, voltou para o namorado, passou-se mais um ano
onde contactamos muito esporadicamente.
Até que um dia quando estava a dormir num sofá do plano b
senti uma mão no cachaço a acordar-me, levantei a cabeça e disse: está tudo bem
João, estou bem a sério. Mas era uma cara seráfica de olhos de mel e de lábios
finos – sou eu bunny, a tua mummy. A minha bebedeira não me impôs uma resposta
certa ao enigma, lembro me do cheiro do cabelo castanho claro no meu nariz
enquanto uma língua me passava pelo pescoço, o meu pénis a ser acariciado por
fora das calças e tentei beija-la ao que ela se afastou e riu-se – sabes que
sou fiel ao G. . Aí tudo fez estupidamente sentido para mim e dei um salto de estupefação
– és um porco nunca me ligas nenhuma. Respondi-lhe que não era bem assim
enquanto olhava à volta com medo que alguém estivesse a ver a cena. Vi um amigo
meu a observar-me enquanto se ria e chamava o resto da matilha para presenciar.
Não foi boa ideia, ainda hoje sou lembrado pelo estalo que levei de seguida.
No dia seguinte recebi uma mensagem a convidar-me para ir a
casa dela com tudo explicitado: hora, local, indicações e pedidos de perfume.
Apareci à porta bastante nervoso e assustado com a expectativa de não conseguir
saciá-la como ela desejava. Entrei em casa, ela convidou-me para o sofá e
apareceu outro rapaz. Tudo parecia estar a correr bem quando me apercebi que
não era o colega de casa dela mas sim G., na minha cabeça tudo parecia simples:
G. ficou com ciúmes e quis me encher de porrada para largar a namorada.
Levantei-me prontamente cerrando os punhos e caminhei na direção dele – o meu
primo ensinou-me a regra geral das porradas, quem dá a primeira bem dada ganha
sempre. S. pôs-se no meio e disse me para me acalmar e respirar fundo. G.
continuava sentado no sofá embora aparentemente nervoso. ‘Pedi ao G. para fazer
sexo contigo mas concordamos que tinha de ser á frente dele e não nos podemos
beijar’. A minha pergunta foi, claro, porquê eu? Ao que ela me respondeu tal
como muitas outras mulheres – não és só tu. Relaxei um pouco tentando-me
convencer que se aquilo seria natural para eles também o poderia ser para mim.
G. ofereceu-me uma ganza, eu pedi que pusesse no youtube o shine on you crazy
Diamond dos pink floyd. S. começou a desapertar-me as calças e enfiou-me dentro
da boca dela, eu gemi pleno de sentimentos confusos até que olhei para G., este
parecia incomodado mas também resignado. Aguentei aquele número um pouco por
estupidez, sentia-me extremamente mal por estar a infligir dor ao rapaz, até
que S. se despiu e os seus olhos ficaram consumidos de prazer e excitação, S.
explicou-me: o G. adora ver me foder. Relaxei um pouco as leituras de Paul
Ricoeur e comecei a aproveitar-me da vagina apertada de S. sem deixar de me questionar
tantas vezes como seria possível ela foder tanto e ainda ter aquele formato tão
apetecível. S. falou comigo com o registo hardcore do costume ‘cona’,
‘caralho’, ‘esporra’, ‘faz me sangrar’ etc. Havia nos seus olhos um misto de
sofrimento e alívio, não sabia bem se estava a fode-la ou injetar-lhe morfina.
S. começou a ser cada vez mais assertiva e a requerer ainda mais da minha
performance sexual até que os seus pedidos se tornaram insuportáveis para G.,
este aproximou-se, deu-me uma palmada nas costas e disse: ‘está boa puto, podes
largar’. Por cortesia e por respeito eu aceitei, sentei-me no sofá a assistir
ao corpo de S. a arquear-se e vociferar: até hoje nunca vi sexo tão à bruta
como o que eles faziam. Terminado o acto, G. foi tomar banho e S. aproximou-se
de mim. Beijou-me loucamente, sentou-se em cima do meu pénis, cavalgou-me
violentamente, apercebeu-se que o meu orgasmo estava perto e saiu para que eu
ejaculasse na sua cara. Pegou no meu telemóvel e tirou uma selfie com o sémen a
escorrer-lhe pela face. Pediu-me que guardasse a foto e que me masturbasse
recorrentemente a vê-la. Eu anuí e pus a minha maior cara de
frustrado/revoltado pois G. acabara de sair da casa de banho. Ele pediu-me
desculpa por me ter interrompido arguindo que eu não estava a dar conta do serviço,
aceitei o reparo e disse-lhe que já tinha tido uma namorada que tinha acabado
comigo por ser mau na cama. G. riu-se, trocámos os ‘é fodido’ do costume e
fui-me embora.
Quatro meses depois, S. ligou-me a dizer que estava grávida,
perguntei-lhe se era do G. ou de qualquer outra rapaz que tinha sido presa
dele(s), ela disse me que tinham feito o teste e que era mesmo de G., nunca me
parecera tão feliz.
- um dia tens de escrever a minha história
- já te disse que só escrevo poemas e maus