Vagueei pelas ruas matinais como ave de mau
agoiro
murchando as plantações de sono por dentro dos
dormitórios
Com a minha passagem lenta e enjoada à porta
desses habitáculos
Sou inspecionado e inquirido pelos porteiros
E muito por de trás do seu queixo interrogatório
Vou rasgando os casulos para impor verdades
precoces
Sobre o sentido mecânico do caminho
E o porquê das principais peças agora serem
importadas
De países onde a contrafação é obra tosca de
mãos negligentes
Que não sabem o que tem de responsabilidade
sobre o silêncio no espaço
Lugar de longas vistas pausadas sobre
horizontes ininterruptos
Sem obeliscos onanistas a intentar um poema
contínuo
Faltam-lhes pulmões que não arrebentem com a
pressão atmosférica
Com a vertigem e a fome obcecada por entendimentos
pederestes
Porque se chegassem ao pico do Evereste
púlpito do auditório do mundo
Seria para protestar contra a falta de
subsídios para cumprir os desígnios
Que lhes prometeram quando se julgava que
ainda era útil cantar-lhes o hino nacional
Esperando lucrar a prestações futuras toda uma
carreira contributiva de benfeitorias
Coleções de fotografias a dar de comer a
pobres e a abraçar pretos
São o inverso dos ciganos sentados nas
soleiras exaustos
após tanto terem caminhado pelas avenidas
deste mundo
mirando agora o céu de olhos lavados de quem
olha e tem muitos e largos olhos miúdos
Para esquecer o negrume a lixo que se lhes encrostou
nos dedos
E nunca cumprimentar por nojo todos os
restantes viandantes
Que ostentam a horas calendarizadas pela inspeção
militar
Pequenas mãos trémulas na lividez higiénica
Porque para esses a putrefação dá-se
essencialmente por dentro
Talvez só a solidão explique tanta necrofilia
a pulsar por dentro dos poetas
Sem comentários:
Enviar um comentário