Lembro-me com muita inveja de um texto do
Manuel António Pina sobre a sua geração, era um lamento por ter observado uma
decadência desde os tempos que andava de braço dado com os seus pares em
cordões humanos imensos. Depois chegou o fenómeno da divisão do trabalho e
consequente verticalização dos assentos. Mas Pina lembrava-se lacrimoso desses
tempos para de seguida perguntar, hoje, que era feito das juras e promessas passadas,
dos gritos éticos a que ninguém chamava ainda ‘imperativo de consciência’ mas
apenas fazer política.
A minha inveja para com o Pina é por eu nunca
ter tido esse tempo áureo passado, quando a minha geração despoletou já foi
para vir pelas montanhas a entoar cânticos a feder a coelho e tristes bichas operárias. Mal lhes nasceu o primeiro
pelo púbico e as mais brilhantes gentes
do meu tempo se dedicaram ao negócio da trepa e os outros, os menos
atentos, dedicaram-se ao festival dionisíaco de profanação do rendimento dos
pais. Não somos a geração dos indignados somos a geração da mini a 50 cts, do
calhau de ganza a 5 euros e das entradas à pala.
Também por isso os protestos e levantamentos
onde jovens participam se caraterizam muito recorrentemente por não ter uma
agenda ou uma proposta. Eles estão completamente alienados da sua capacidade fabulatória
e imaginativa sobressaindo a uma raiva ontológica que nunca saberão converter
em ideológica.
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