domingo, 7 de dezembro de 2014

Minha Geração

Lembro-me com muita inveja de um texto do Manuel António Pina sobre a sua geração, era um lamento por ter observado uma decadência desde os tempos que andava de braço dado com os seus pares em cordões humanos imensos. Depois chegou o fenómeno da divisão do trabalho e consequente verticalização dos assentos. Mas Pina lembrava-se lacrimoso desses tempos para de seguida perguntar, hoje, que era feito das juras e promessas passadas, dos gritos éticos a que ninguém chamava ainda ‘imperativo de consciência’ mas apenas fazer política.
A minha inveja para com o Pina é por eu nunca ter tido esse tempo áureo passado, quando a minha geração despoletou já foi para vir pelas montanhas a entoar cânticos a feder a coelho e tristes bichas operárias. Mal lhes nasceu o primeiro pelo púbico e as mais brilhantes gentes do meu tempo se dedicaram ao negócio da trepa e os outros, os menos atentos, dedicaram-se ao festival dionisíaco de profanação do rendimento dos pais. Não somos a geração dos indignados somos a geração da mini a 50 cts, do calhau de ganza a 5 euros e das entradas à pala.

Também por isso os protestos e levantamentos onde jovens participam se caraterizam muito recorrentemente por não ter uma agenda ou uma proposta. Eles estão completamente alienados da sua capacidade fabulatória e imaginativa sobressaindo a uma raiva ontológica que nunca saberão converter em ideológica.

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