Vou verificar as tabelas de esperança média de vida, infantil e ingénuo, crente no progresso científico. 70 e tal anos quase 80. Quiçá. Rio-me irónico de mim mesmo. Pareço daqueles putos estúpidos que vão ler aos manuais de biologia quais são os sinais da puberdade para ver se chegaram lá. Rio-me irónico, novamente, ainda mais quando penso que já o fiz.
O meu riso e interrompido pela faca, sofro um esticão frio e ácido, dói mais quando começa ou acaba o corte, não entendo porque. Findou mais um traço no meu pulso, o sangue como de costume esvai-se para os meus dedos e impregna-se em tudo que toco. E a minha marca sobre os objecto, olho de perto o traço há uma ligeira falha de quase um ano, não me lembro bem porque, lembro me talvez de ter sentido que dói mais quando começa, ou neste caso recomeça, ou acaba o corte. Ou. Ou não me interesso por nada disto sinceramente, penso como são ridículos os anarquistas, surrealistas e todos aqueles que desprezam a forca do hábito. Desinteresso-me profundamente por tudo isto, retiro os olhos dos traços( verticais, paralelos e de igual tamanho) feitos a giz(dezanove a giz vale quase um a sangue) por mim na parede e vejo que a beira ha um poster de uma mulher nua, loira, sem pelos púbicos e com seios de plástico, vejo a janela com grades pregar-lhe uma partida, e a sombra de uma delas escancarar-se entre os seus seios, para quem não percebe como se pode rir do nosso próprio infortúnio, há que saber ver como a nossa prisão também tem a sua piada, e como e importante saber nos rirmos irónicos da nossa vida, da nossa desgraça.
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