segunda-feira, 28 de março de 2011
Liliana
A busca de Liliana, como banalmente entre os artistas, era a da autenticidade. Mas para ela, o que era autentico era o que era virgem, puro, fresco. Para quem quer sorver a nascente da sua fonte, que lhe interessa remar sobre ela, convidar outros na margem, fazer um passeio romântico entre beijos ao luar sobre ela. O respeito perfeito pela Arte, entenda-se a compreensão da realidade, e sobretudo o respeito da não interferência, o terminar da ousadia de tentar representa-la, a recusa do paradoxo do jardineiro que ao querer semear a relva a calca. Os artistas, são um embuste dizia, procuram o verdadeiro quando e falso o que criam, não por serem hipócritas conscientemente, mas por intentarem algo fracassado a nascença.
Liliana gostaria de reencarnar, ser uma arvore, longos tempos. Deixar o que a rodeia ganhar a sua própria vida, sentindo-lhe a sua pulsacao, nascer dele como um fruto. Ser um dano colateral do conjunto de matérias e reacoes químicas que a sucederam e alienar-se. Nunca inferir sobre outrem, respeitar o curso natural dos outros, esperando que também eles soubessem por eles descobrir-se como artistas, ou seja, paneis brancos como milhares de pequenos tecidos reunidos mais línguas do que tecidos porque ávidos de saborear a vida, o sabor da vida como milhares de entendimentos possíveis dispersos numa manada de cavalos livres relinchando como se fosse essa a linguagem ultima, a indecefravel, a autoctene, a verdadeira.
Emanuel
Nunca vás para a cama com o teu poeta preferido, no dia seguinte acordas e na tua memória, seca e morta, só vês a nódoa dos vossos fluídos, como que cavalos que montaram para sucumbir a derradeira barreira. Vulgar e Banal. Humano. Banal portanto. Nunca o materializes, a genuflexão é uma dádiva, protege o teu altar e sê fanático. Ser homem é ser não Deus. Se fôssemos Deus não eramos homens, porque se fôssemos Deus tudo saberíamos; por não tudo sabermos criamos ilusões. Guarda a tua como se fosse o teu hímen antes de um casamento cigano.... Nunca.
Nunca vás para a cama com o teu poeta preferido. E se fores queima a tua casa e mata os teus pais. Veste-te de negro e esconde-te numa viela. Quando vires passar a pessoa certa observa-a, sorve-a, xupa-a em câmara lenta. Persegue-a até ao metro. Senta-te em frente dela e penetra-a pelo o olhar, até te tornares incómodo, até ela se assustar, até lhe cheirares o medo. Cheira-lhe o medo e esboça um sorriso sodomita, aproveita-te, delicia-te. Encosta-lhe a faca ao pescoço como ameaça, procura-lhe a confissão: que a volumetria crescente do seu medo te dê estocadas cada vez mais fortes, para que grites mais, para que vociferes, para que a pessoa a tua frente fique ainda mais apavorada, para que te venhas só da memória dos teus tempos áureos. Depois, entre o pânico da tua vítima, chantageia-a até ela finalmente confessar qual é o seu poeta preferido. E desta vez não faças merda: nunca vás para a cama com o teu poeta preferido.