Caricaturando podemos afirmar que sempre houve duas grandes correntes de pensamento dominantes na Europa, uma mais preocupada em estabelecer compromissos para uma garantia formal dos direitos, que deriva da origem do constitucionalismo na Inglaterra, e outra, propulsionada por um denso eixo franco-germânico, sobretudo preocupada pela garantia real de direitos sociais e não meramente políticos. Ou seja, e amiudizando a coisa, a Inglaterra foi relativamente precoce ao conceder direitos políticos aos seus cidadãos, contrariamente a uma Revolução Francesa levada a cabo por uma vontade de estabelecer vários direitos sociais reais (veja-se, por exemplo, as pretensões do “programa político” dos jacobinos).
Continuando por esta via, notoriamente redutora, poderíamos afirmar que o comunismo, tal como todas as ditaduras, propõe o que os economistas chamam de “trade-off”, ou seja, dispensar determinados bens em prol do consumo de outros, e regressando ao nosso tema, uma troca de direitos políticos por direitos sociais. Será boa verdade, que sem direitos sociais, os direitos políticos não passarão de fantoches, e que as democracias não passarão de simulacros, ou de sistemas que pretendem esconder uma ditadura real solidificada através da falta de mobilidade social e de difusão do conhecimento.
Será que estamos perante uma ditadura pretensamente democrática? Existe ou não mobilidade social na nossa cidade? Estão os mecanismos de difusão do conhecimento a ser democráticos?
Os mecanismos de mobilidade social na nossa sociedade passam essencialmente pelo sucesso dentro do ensino, mais especificamente dentro do ensino superior. E como é sabido, o ensino superior já é o fim do percurso, e que ninguém chega em pé de igualdade a ele, e visto que apenas um quarto dos jovens entre os 18 e os 25 anos frequenta o ensino superior, nem todos chegam a ele sequer.
Será que isto é suficiente para dizer que estamos numa ditadura? E será que isto é suficiente para querermos trocar os nossos direitos formais políticos actuais por reais direitos sociais?
E será que trocar direitos sociais reais por direitos formais políticos significa realmente a garantia dos primeiros? Será que a URSS falhou? Ou será que qualquer país que se feche ao comércio externo está destinado ao isolamento e à falência?