A luz queimava a sua pele pálida. A carne, uma vez repentinamente iluminada pelas luzes artificiais da casa, lembrava o reflexo choroso das pernas de porco quando penduradas nas salas refrigeradoras dos talhos. De resto, esse lamento era raro, sobre o quarto o corpo aninhava-se na escuridão quase todos os tempos, ocupados, como todos os outros, a dissecar o mesmo. Como foi morta a carne que originou ao momento meditativo em que se encontrava, nunca ninguém soube responder a não ser o próprio, não a própria, o próprio, o proprio que se julgava superior a própria, superior o suficiente para se criar como próprio. Poderia parecer portanto quase irónico a crença na presença por entre as letras esguias dos livros , desenhado entre o branco espectral da matéria das folhas, do seu criador, como se de uma identidade externa se tratasse, essa irónica interpretação da descrição exaustiva e pesada dos infindáveis traços-rugas de tão velha crença.
A substancia da crença não e levitativa, e por entre a miséria obscura do seu quarto, apenas rasgada por confusos raios luminosos que furavam o escuro, a agonia da aura de Gustavo era a base da sua crença. Ao lógico processo das coisas, a evidencia quase irrefutável da terra, da semente que quando plantada gera uma arvore, que gera frutos, que caem e apodrecem, ao ranger sub-reptício a todos os procedimentos, desde da mulher que se entrega a seu homem, ao corvo que caca a sua presa, ao gato que lambe o seu pelo, só se poderia opor, ao ranger das coisas, o completo processo que se operava dentro daquele quarto, como se Gustavo conhecesse o zero, e tivesse materializado o negativo, como se tivesse encontrado o terceiro quadrante do referencial, espácio-temporal, abicsso-ordinal. E se não mesmo o fosse, o que seria? O que seria tudo aquilo que o homem sentia, fazia, criava, imaginava, lutava? O que seria aquela atulhada de merda que os psicólogos tanto se ocupam em enquadrar ridiculamente em discursos que só valem por exemplares de uma eloquência sustentada pelos manuais de retórica?
A Gustavo pulsava-lhe a certeza a noite, quando ate as gaivotas que se intrometiam entre as suas persianas no seu silencio partiam, a sua cara ganhava a cor de chama da crença, a crença que agora lhe consumia a face, e que a medida que ele se agarrava como um louco a ela, julgando se ele não ir com o tornado do tempo, o consumia, e como são Jorge estucando o dragão, assim a o ranger das coisas começou por agonizar a aura silenciosa de Gustavo, para depois mata-la, matando-o, a própria, e ao próprio, mas sem se rir como os vilões, nem clemência como os juízes, matando apenas.
sábado, 31 de julho de 2010
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Edmildo
Isabella conseguiria facilmente serpentear por entre os segredos mais íntimos de um homem e morder-lhes a mão quando estes estendiam a mao para a desvendar. Sua prima, costumava tecer comentários carinhosos sobre a total inexistência de um homem certo que Isabella poderia apresentar a família, estender-lhe-ia mão como os santos estendem a mão aos pobrezinhos e dizer-lhe-ia, Isabella, prima, sangue do meu sangue, eu sinto a tua dor, um dia encontraras um homem que te queira apesar dos teus gostos e maneiras esquisitas, ao que, Isabella, com seus olhos camaleonicos, responderia com um olhar azul anilar, sim talvez um dia. Depois, uma vez sozinha, costumava fantasiar com seus olhos em chama, a chegada de sua prima ao quarto no exacto momento da profanação da santa união, arqueando e vociferando o dialecto da terra, rir-se-ia na cara dela, e dir-lhe-ia: todas as gotas secam, do meu suor ao teu choro vai um nada de distância. Sim. Para Isabella, havia uma linha muito ténue entre o que e mórbido e o que e erótico. Não consideremos Isabella uma psicopata, maníaca, ou para o regozijo dos ideários masculinos, ninfomaníaca. Para Isabella, o céu tinha suficientemente poucas cores para se dar a displicência de renegar alguma. Também não entraremos, por entre o cliché de ceder a Isabella a habitual necessidade de quebrar rotina ou stress. A Isabella, dar-lhe-emos todos os clichés que orbitam como astros em chamas a volta do orgasmo. O lugar-comum. Alias, Isabella, a própria, costumava rir-se dos diversos intelectuais tanto punheteiros como homossexuais que criticavam os lugares comuns, tendo aliás, criado uma teoria baseada na crença que a rejeição dos mesmos estava directamente correlacionada com a incapacidade de chegar ao mesmo. E Isabella gostava de partilhar estes pensamentos quando entendia que pudesse receber o seu premio preferido, és uma puta de merda sabias? Diziam-lhe.
E uma outra vez insisto, Isabella, não tinha tido uma infância perturbadora, não sofria de nenhuma desinibição crónica, excesso de libido progressiva ou doutra qualquer agravante. Era, pelo contrario, bastante tida socialmente, profissional de sucesso, moldara o seu percurso brilhante pelo próprio cunho, dotara-se da conceptualidade necessária para poder ter sucesso no seu percurso académico ou para poder mastigar a arte que por vezes lhe obrigavam a consumir em eventos sociais.
Seduzia-a facilmente mas com muita paciência. Aproximar-me dela passava por um labirinto que eu próprio montei. A cada galeria que ela ultrapassava, uma nova câmara aparecia por decifrar, algum sentimento por corromper, algum sangue por derramar. Deixei Isabella esvair-se sobre o meu tronco, a cada sucesso seu em delinear o meu corpo com sua língua suculenta e acida, reaparecia dos seus olhos negros absorventes um leve verde de descanso, e a cada aparente sucesso seu, Isabella esculpia dando-se a conhecer as grades da sua própria jaula. E quando a minha voz ecoava por entre o granito duro e quente do seu corpo, cada vez mais irritada Isabella ia errando progressivamente, ainda que com vitorias ia perdendo cada vez mais manobra. Quando a ultima vitoria foi obtida, descobri que nunca conseguiria suste-la, e uma grande porta desenhava um grande clarão de luz branca, Isabella pensou, que chegaria a vez de cuspir o que restava dos meus segredos mais íntimos, quando viu que todo o seu cheiro estava perdido pelo meu corpo, que todo o sangue se esvaíra, e foi quando nos olhamos, e descobrimos o amor. Ámen.
E uma outra vez insisto, Isabella, não tinha tido uma infância perturbadora, não sofria de nenhuma desinibição crónica, excesso de libido progressiva ou doutra qualquer agravante. Era, pelo contrario, bastante tida socialmente, profissional de sucesso, moldara o seu percurso brilhante pelo próprio cunho, dotara-se da conceptualidade necessária para poder ter sucesso no seu percurso académico ou para poder mastigar a arte que por vezes lhe obrigavam a consumir em eventos sociais.
Seduzia-a facilmente mas com muita paciência. Aproximar-me dela passava por um labirinto que eu próprio montei. A cada galeria que ela ultrapassava, uma nova câmara aparecia por decifrar, algum sentimento por corromper, algum sangue por derramar. Deixei Isabella esvair-se sobre o meu tronco, a cada sucesso seu em delinear o meu corpo com sua língua suculenta e acida, reaparecia dos seus olhos negros absorventes um leve verde de descanso, e a cada aparente sucesso seu, Isabella esculpia dando-se a conhecer as grades da sua própria jaula. E quando a minha voz ecoava por entre o granito duro e quente do seu corpo, cada vez mais irritada Isabella ia errando progressivamente, ainda que com vitorias ia perdendo cada vez mais manobra. Quando a ultima vitoria foi obtida, descobri que nunca conseguiria suste-la, e uma grande porta desenhava um grande clarão de luz branca, Isabella pensou, que chegaria a vez de cuspir o que restava dos meus segredos mais íntimos, quando viu que todo o seu cheiro estava perdido pelo meu corpo, que todo o sangue se esvaíra, e foi quando nos olhamos, e descobrimos o amor. Ámen.
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