quinta-feira, 20 de maio de 2010

Edmildo

Isabella conseguiria facilmente serpentear por entre os segredos mais íntimos de um homem e morder-lhes a mão quando estes estendiam a mao para a desvendar. Sua prima, costumava tecer comentários carinhosos sobre a total inexistência de um homem certo que Isabella poderia apresentar a família, estender-lhe-ia mão como os santos estendem a mão aos pobrezinhos e dizer-lhe-ia, Isabella, prima, sangue do meu sangue, eu sinto a tua dor, um dia encontraras um homem que te queira apesar dos teus gostos e maneiras esquisitas, ao que, Isabella, com seus olhos camaleonicos, responderia com um olhar azul anilar, sim talvez um dia. Depois, uma vez sozinha, costumava fantasiar com seus olhos em chama, a chegada de sua prima ao quarto no exacto momento da profanação da santa união, arqueando e vociferando o dialecto da terra, rir-se-ia na cara dela, e dir-lhe-ia: todas as gotas secam, do meu suor ao teu choro vai um nada de distância. Sim. Para Isabella, havia uma linha muito ténue entre o que e mórbido e o que e erótico. Não consideremos Isabella uma psicopata, maníaca, ou para o regozijo dos ideários masculinos, ninfomaníaca. Para Isabella, o céu tinha suficientemente poucas cores para se dar a displicência de renegar alguma. Também não entraremos, por entre o cliché de ceder a Isabella a habitual necessidade de quebrar rotina ou stress. A Isabella, dar-lhe-emos todos os clichés que orbitam como astros em chamas a volta do orgasmo. O lugar-comum. Alias, Isabella, a própria, costumava rir-se dos diversos intelectuais tanto punheteiros como homossexuais que criticavam os lugares comuns, tendo aliás, criado uma teoria baseada na crença que a rejeição dos mesmos estava directamente correlacionada com a incapacidade de chegar ao mesmo. E Isabella gostava de partilhar estes pensamentos quando entendia que pudesse receber o seu premio preferido, és uma puta de merda sabias? Diziam-lhe.
E uma outra vez insisto, Isabella, não tinha tido uma infância perturbadora, não sofria de nenhuma desinibição crónica, excesso de libido progressiva ou doutra qualquer agravante. Era, pelo contrario, bastante tida socialmente, profissional de sucesso, moldara o seu percurso brilhante pelo próprio cunho, dotara-se da conceptualidade necessária para poder ter sucesso no seu percurso académico ou para poder mastigar a arte que por vezes lhe obrigavam a consumir em eventos sociais.
Seduzia-a facilmente mas com muita paciência. Aproximar-me dela passava por um labirinto que eu próprio montei. A cada galeria que ela ultrapassava, uma nova câmara aparecia por decifrar, algum sentimento por corromper, algum sangue por derramar. Deixei Isabella esvair-se sobre o meu tronco, a cada sucesso seu em delinear o meu corpo com sua língua suculenta e acida, reaparecia dos seus olhos negros absorventes um leve verde de descanso, e a cada aparente sucesso seu, Isabella esculpia dando-se a conhecer as grades da sua própria jaula. E quando a minha voz ecoava por entre o granito duro e quente do seu corpo, cada vez mais irritada Isabella ia errando progressivamente, ainda que com vitorias ia perdendo cada vez mais manobra. Quando a ultima vitoria foi obtida, descobri que nunca conseguiria suste-la, e uma grande porta desenhava um grande clarão de luz branca, Isabella pensou, que chegaria a vez de cuspir o que restava dos meus segredos mais íntimos, quando viu que todo o seu cheiro estava perdido pelo meu corpo, que todo o sangue se esvaíra, e foi quando nos olhamos, e descobrimos o amor. Ámen.

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