quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Karl Marx

Lembro-me de ser ainda pequeno, rondando fragilmente os sete anos, e o meu avô mandar calar a família porque as notícias tinham de imperar sobre o normal convívio familiar. Havia um denso frenesim saltitante na sua perna esquerda, e enquanto tossia asperamente os seus olhos zigueavam entre a mesa, nos intervalos ou quando terminavam os senhores de fato de falar, e a televisão, quando não era intervalo e os senhores de fato falavam. Pelo menos assim pensava eu, que não compreendia bem o que se passava. Polítco de profissão então, a manutenção do estado de silêncio era um absoluto assunto de estado, não sabendo eu muito bem o que isso era, nem porquê aquele estado, nem quem lhe dava representatividade, e se esse alguem o tivesse realmente feito, porque é que escolhera o avô para decidir por ele, sabia apenas que o avô fora comunista e que agora era do PS e que por isso a familia devia votar PS. Um certo belgrado dia, algo de diferente se passou, um certo senhor chamado Carlos Carvalhas ,ou qualquer coisa do genero, líder do Partido Comunista, a que o avô pertencera, veio a televisão dizer que o PC devia voltar ao maxismo-lenimismo ou ao markssimo-jelinisno. Aquelas palavras estranhas, que agoram nitidamente me soam a marxismo-leninismo, propagavam um estranho jugo sobre as pessoas, entre as que eu vira mais tarde repetir a tão aclamada citação, ou as que franziram o sobreolho após ler o o mesmo título do jornal que eu lera gemendo com o meu miúdo dedinho: Umas, vestiam a chacota por complecto como quem se ri agora de um velhinho que ainda quer apanhar o 78, outros, assustados, olhavam para aquilo como eu olhava então para a verruga do nariz da bruxa da branca de neve. Outros depoimentos fui colhendo, cada qual mais impróvavel que o outro, berros de treinador de bancada, berros daqueles que e berros daqueles que, e berros daqueles que, o que, de facto não era ignorável, era que, aquele maxismo-laninismo, não deixava ninguem indiferente.
Mais tarde, levado pela aquela curiosidade que me fazia percorrer alguns manuais, principalmente os de História, encontrei uma tal citação do dito "Karl Marx", dizia ele, bem metedinho numa linha cronológica entre os grandes pensadores da História, "transforma o mundo e não te limites a intreperta-lo". Neste tarde, eu estava em processo de reforma da vida profissional, vindo do oitavo ano com 4 negativas: Biologia e Geologia, Fisica e Quimica, Francês e Matemática, e mais tarde no nono com 2: Biologia e Geologia, e Fisica e Química, apenas se apontavam uns 14 e 15 a História, disciplina aliás que não constava no plano de estudos do 10 ano(altura do tarde). Algo de arrebatador parecera me surgir daquela frase, como um pensamento abstracto fundador de um paradigma de interpretação da realidade, porque eu entendera então que a máxima sugeria, ou melhor dizendo, aclamava que o sujeito era um actor no processo epistmológico, e mais que passivamente receber as informações que lhe traziam os livros ou os outros, ou seja interpretar, ele devia trabalhar essa informaçao individividualmente, ou seja transformar. Tratava-se então de uma transformaçao como uma responsabilização do sujeito cognoscível por parte do processo de conhecer, um exortar de Marx para que os sujeitos avançassem sobre a passividade epistmologica com que usualmente encaram a realidade.
Mais tarde tive aulas de Ciência Política.